domingo, 27 de setembro de 2009

Sonhar....

"O homem pensa.
A mulher sonha.

Pensar é ter cérebro.
Sonhar é ter na fronte uma auréola.

O homem é um oceano.
A mulher é um lago.

O oceano tem a pérola que embeleza.
O lago tem a poesia que deslumbra.

O homem é a águia que voa.
A mulher, o rouxinol que canta.

Voar é dominar o espaço.
Cantar é conquistar a alma.

O homem tem um farol: a consciência.
A mulher tem uma estrela: a esperança.

O farol guia.
A esperança salva.

Enfim, o homem está colocado onde termina a terra.
A mulher, onde começa o céu!!!"
(Victor Hugo)

)



"Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis."

Dever de Sonhar
(Fernando Pessoa)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Pressinto...

"Não sei teus gestos
nem a cor do teu sorriso
mas pressinto os passos."
(Eolo Yberê Libera)




















"Sinto,
pressinto,
ressinto...
Escrevo palavras
desordenadas,
inacabadas....
Quero,
espero,
desespero.....
Só"

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Rifa-se um Coração...



Rifa-se um coração
Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração criança que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia
estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,
é isso que eu espero...".
Um idealista...Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições
arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional
que abre sorrisos tão largos que quase dá
pra engolir as orelhas, mas que
também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado,
ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,
só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e,
se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo,
mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusar
a cultivar ares selvagens ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,
sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,
constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Coisa amar

Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

(Manuel Alegre)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Without You



Without You
Empire Of The Sun

No, no shapes at all
Nothing real or artificial
No energy or heat
No troughs there are no peaks

No hangover from last night
No shame in first light
No time there’ll be no change
No colours to rearrange

I get that feeling
When we’re apart
I get the teaching that I can’t be without you
Without you babe

No future there is no past
No slow there is no fast
No grace with which to admire
No face there is no desire

No symmetry or peace
No sirens or police
No cameras and no phones
No photographs and no tones

I get that feeling
When we’re apart
I get the teaching that I can’t be without you
Without you babe

Come on, hey now, come on, hey now, come on
Take my heart in your hands
Come on, hey now, come on, hey now, come on
Take my heart in your hands

We Are The People



We Are The People
Empire Of The Sun

We can remember swimming in December,
Heading for the city lights in 1975,
We share in each other,
Nearer than father,
The scent of a lemon drips from your eyes

We are the people that rule the world.
A force running in every boy and girl,
All rejoicing in the world,
Take me now – we can try.

We lived an adventure
Love in the Summer,
Followed the sun till night
Reminiscing other times of life,
For each every other
The feeling was stronger,
The shock hit eleven – Got lost in your eyes

I can’t do well when I think you’re gonna leave me,
But I know I try,
Are you gonna leave me now,
Can’t you be believing now.

Can you remember and humanise,
It was still where we’d energised,
Lie in the sand and visualise
Like its 75 again,

I know everything about you,
You know everything about me,
Know everything about us

Sebastião da Gama

À pouco tempo desloquei-me até Azeitão, ao Museu Sebastião da Gama, com uma colega de trabalho. Tinhamos como objectivo reunirmo-nos com uma outra colega, a fim de percebermos que trabalhos de restauro eram necessário em documentos gráficos. Esta visita foi para mim uma surpresa....
Entrámos no museu, fizeram-se as apresentações, e a colega com quem me tinha deslocado mostrou-me a exposição do poeta. Fiquei fascinada com o rico espólio que se encontrava (e encontra-se) exposto. Este espólio foi doado pela viúva, ainda viva, do poeta.
As paredes encontram-se forradas com fotos, frases e poemas do autor... Fiquei de tal forma fascinada que quando me lembrei o que lá tinha ido fazer as minhas colegas já estavam a terminar a reunião: )
Durante este dia, e nos dias a seguir, questionei-me como seria possivel eu não conhecer este poeta fantástico da minha terra. Ainda por cima gostando eu tanto de poesia.
Andarei eu completamente distraída? Ou será que nas nossas escolas só se estudam os grandes autores, esquecendo os artistas que marcaram a historia da nossa cidade??
Bom, aproveito para vos deixar alguns poemas do autor e alguma bibliografia, aproveitando assim para vos dar a conhecer o "poeta da arrábida", tal como é conhecido!

O poeta da Arrábida morreu jovem, mas teve tempo para dar voz à Serra, ao mar e aos homens que deles vivem. Foi há 53 anos, mas a obra de Sebastião da Gama, autor de um Pequeno Poema, não está ainda esquecida.


PEQUENO POEMA

Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias,
nem o Sol escureceu,
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha Mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci,
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

Pra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha Mãe...


Sebastião Artur Cardoso da Gama nasce em Vila Nogueira de Azeitão, a 10 de Abril de 1924. Logo aos 14 anos é-lhe diagnosticada a tuberculose óssea que haveria de lhe custar a vida. A conselho do médico, muda-se com a mãe para a Serra da Arrábida, cenário de sonho que será o “primeiro amor” da sua poesia.
Tal como Alexandre Herculano antes de si, o jovem Sebastião não se cansa de cantar a Serra: em Serra Mãe, Loas a Nossa Senhora da Arrábida e Cabo da Boa Esperança, os caminhos mais recônditos e as gentes da Serra são personagens principais.

Para além da Arrábida, é o mar que encanta o jovem Sebastião, a quem a doença e o isolamento parecem não retirar alegria, vivacidade e facilidade de relacionamento com as pessoas. Como com os pescadores e lavradores, a quem admirava o linguajar.

O início da década de 50 parece promissor para o poeta: em 1951 casa com a amiga de adolescência e vizinha Joana Luísa, na Capela da Arrábida, e nesse mesmo ano publica o quarto volume de poesia, Campo Aberto.
No ano seguinte, no entanto, o seu estado de saúde, que sempre fora débil, agrava-se e Sebastião é internado em Lisboa. Sete meses após o casamento, e aos 27 anos de idade, o autor de Pequeno Poema morre vítima de uma meningite renal.

Joana Luísa empenha-se, após a morte do marido, na publicação dos seus inéditos. É assim que, postumamente, são lançados Pelo Sonho é que Vamos, Diário, O Segredo é Amar e Itinerário Paralelo.
Em 1999, Vila Nogueira de Azeitão passou a acolher o museu onde se reúnem o espólio artístico e alguns objectos pessoais de um dos mais queridos filhos da terra.

Apesar de ser um poeta modestamente reconhecido, são bastante populares o Pequeno Poema e Pelo Sonho é que Vamos. Poeta popular sem ser “popularucho”, Sebastião da Gama não se inseriu em nenhuma corrente literária em particular. A sua rima fácil, o verso fluído e as imagens luminosas fazem dele um autor a não esquecer, ainda que sobre a sua morte já tenham passado 53 anos.



O SOL JÁ SE ESCONDEU...

O sol já se escondeu...
Precisamente quando,
feliz,
eu desatei a cantar.
(Só por feliz eu cantei).

Agora quero acabar,
que já me dói a garganta
mas vou ainda cantando,
temendo
dar por mim de novo triste
assim que esteja calado
(...Como se a minha Alegria
nascesse de eu ter cantado).

in Serra-Mãe



O SONHO

Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos,
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia-a-dia.

Chegamos? Não chegamos?

- Partimos. Vamos. Somos.


in Pelo sonho é que vamos

A alegria na tristeza

"O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do uruguaio Mario Benedetti. No original, chama-se "Alegría de la tristeza" e está no livro "La vida ese paréntesis" que, até onde sei, permanece inédito no Brasil.

O poema diz que a gente pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.

Pode parecer confuso mas é um alento. Olhe para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por um boné, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música. Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.

Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra fora.

Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.

Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.

Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada. Triste é não sentir nada."

Martha Medeiros

domingo, 6 de setembro de 2009

Lúcida entre as loucuras

"Sem rumo, sem direção
E o pior de tudo
Lúcida.
Queria enlouquecer
Entrar em devaneios, paranóias
Mas a racionalidade me devora.
Queria voar até o céu
Queria sentir o prazer da plenitude
Mas minhas asas se desfazem
Nas mínimas alturas.
Queria subir na montanha mais alta
E berrar coisas inteligíveis
Queria quebrar vidraças
Queria rasgar meu coração, mas
Minha razão não me abandona.
Queria me desvencilhar dela
Pelo menos por um instante
E me permitir enlouquecer.
Me permitir não responder
Me permitir chutar todos os baldes pela frente
Me permitir dizer não
Deixar meu ID se libertar
Ser selvagem
Ser cruel.
Mas o máximo que consigo
É permanecer
Sem rumo, sem direção
E o pior de tudo
Lúcida."
(Jussara Alves)



Tento-me concentrar nos meus objectivos, mas parece-me tudo tão dificil, tão longinquo que me faz sentir enfraquecida...Pergunto-me se algum dia conseguirei?!
Sinto perder em mim aquela menina dinâmica e sonhadora, que sentia energia para mover o mundo se assim fosse necessário para concretizar os seus sonhos.
Hoje tenho apenas objectivos, e sinto uma dificuldade enorme em concretizá-los. Por mais que batalhe e mantenha o ânimo, existem estes dias que me fazem esmorecer e perder a esperança.
O que me obriga a encontrar um rumo, uma direcção são as responsabilidades que tenho. Mas são essas mesmas responsabilidades que me obrigam a estar lucida e a perder as minhas asas.
Tenho saudades de ser menina, tenho saudades dos meus sonhos....tenho saudades de não estar lucida...
E continuo a caminhar, não sei muito bem para onde, talvez pelo unico caminho que deva ir, a encarar a vida e a tentar, mais uma vez, reconstruir, reconstruir e reconstruir....pois é o que tenho feito estes ultimos anos. Não sei quando, mas hei-de conseguir!!..

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Ritmo Inadiável

"A dança é qualquer coisa que nasceu com o próprio Homem, e é uma expressão, simultaneamente, de liberdade e de alegria. É um reflexo, como diriam os nossos avós, “do que nos vai na alma”. A comunicação começa e fundamenta-se entre o gesto e a palavra.
Diz o povo que “o gesto é tudo” e pode-se, precisamente, num desencadear de gestos, no crescer de um ritmo de atitudes, construir uma mensagem relativamente às nossas inquietações, àquilo que nos ocupa e preocupa e, digamos até, a um universo total do mistério da existência.

Diria mesmo, que a dança é, realmente, a poética do gesto, a corporização que cresce nesse gesto, manifestando um discurso que oferece a quem a olha uma determinada mensagem, concreta.
Eu acredito numa dança de improviso.

Entendo perfeitamente que se pode até dançar embalado por uma música interior, a nossa própria música. Nós somos o reflexo de um mundo que nos envolve."
(Lagoa Henriques, excerto retirado da Revista da dança reedição a 21 de Fevereiro de 2009)




Adoro dançar! Gosto de dançar ao som de qualquer musica, em qualquer companhia. Em sitios lotados de gente, ou até a meio gás: )
Gosto de dançar com a minha filha.
Mas a dança que mais gosto é a solitária...quando estou em casa sozinha, comigo própria. Sentir o chão nas palmas do pés e dançar comigo própria. Libertar-me....
Enfim, segredos meus: )


"Mostrem-me como dança um povo e eu lhes direi se a sua civilização está doente ou de boa saúde."
(Sábio Confúcio, China, séc.VI).